A Sociologia como afirmação / Sociology as assertion
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https://doi.org/10.20336/rbs.818Resumen
Este artigo, ora republicado pela Revista Brasileira de Sociologia, saiu originalmente na Revista Brasileira de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Econômicas (FaFi) da Universidade Federal de Minas Gerais, no volume II, nº 1 de março de 1962. Trata-se do discurso de abertura do II Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Belo Horizonte no dia 12 de março, pelo seu presidente, Florestan Fernandes.
O II congresso da SBS estava programado para se realizar em 1956, mas por questões de cunho político e institucional, só conseguiu se efetivar oito anos após o primeiro. A diretoria eleita em 1962 foi atropelada pelo golpe civil-militar de 1964 que desarticulou a SBS.
O III congresso, de reorganização, realizou-se apenas 25 anos depois, em 1987, num contexto de redemocratização e expansão institucional da formação e da pesquisa no país. Em sua abertura, Gabriel Cohn retomou o texto de Florestan, destacando os novos desafios da disciplina em “A Sociologia como interrogação”, agora com os novos desafios colocados numa sociedade que se modernizou rapidamente sem mexer, contudo, na estrutura das desigualdades sociais que, ao invés de diminuírem, aumentaram.
Apesar das grandes mudanças na sociedade brasileira nestes últimos 58 anos, o texto de Florestan apresenta uma atualidade desconcertante. Argumenta que a adoção dos critérios de cientificidade na produção do conhecimento não estão dissociados de um determinado padrão de civilização e destaca um horizonte cultural sufocante e um forte irracionalismo “ligados à herança cultural pré-científica, ou de complexo jogo dos interesses sociais que limitam o aproveitamento dos dados e das descobertas da ciência às conveniências de manipulação do poder pelas camadas sociais dominantes, sejam elas quais forem”. As sociedades humanas não passam por um processo evolutivo, linear. A expansão da racionalidade e do conhecimento científico estão sujeitos de forma permanente a tensões e conflitos com fatores irracionais e retrógrados presentes na sociedade e o avanço da ciência depende da consolidação da ordem social democrática. Sociologia é o conhecimento crítico dos fenômenos sociais e, sem liberdade, esse conhecimento não prospera. O ano era 1962, mas em 2021, nosso horizonte está marcado pelas sombras do obscurantismo, do reacionarismo político, social e cultural. Os tempos sombrios estão de volta.
Ao lado dessa percepção preocupante do contexto vivido, outras questões são explanadas no texto vinculadas à formação, ao ensino e à atuação do sociólogo, evidenciando uma disciplina então em processo de afirmação, mas indicando desafios ainda a serem enfrentados. A maior parte delas, ainda está presentes nos debates da sociologia brasileira, exigindo sua releitura para melhor qualificar esses debates. Um texto se torna clássico pela perenidade das questões que sugere. Este texto evidencia essa condição.
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