Governamentalidade autocrática: repensando as racionalidades de governo em diálogo com Florestan Fernandes / Autocratic governmentality: rethinking government rationalities in dialogue with Florestan Fernandes
Visualizações: 945DOI:
https://doi.org/10.20336/rbs.542Resumo
Pretendo ler a reflexão de Florestan Fernandes sobre as resistências à mudança social e sobre a dominação autocrática nos termos do que o Foucault dos anos 1977-1979 chamou de governamentalidade. Assim, procurarei demonstrar como os padrões de ação, reação e práticas definidos como sociopatia irracional, racionalidade possível e racionalidade estratégica dos setores dominantes da sociedade brasileira ganham, em termos analíticos, quando entendidos como manifestações de uma mentalidade de governo autocrática. Mais do que enquadrar o sociólogo paulista no interior do aparato conceitual foucauldiano, pretendo demarcar, num esforço de simetria e enriquecimento recíproco, as suas contribuições para uma analítica das racionalidades de governo para, por fim, em diálogo com leituras mais recentes do capitalismo contemporâneo, sugerir a atualidade da sociologia crítica de Florestan Fernandes no esforço de elaboração de um diagnóstico do presente.
I intend to read Florestan Fernandes' reflection on resistances to social change and on autocratic domination in terms of what Foucault of the years 1977-1979 called governmentality. Thus, I will try to demonstrate how the understanding of defined patterns of action, reaction and practices such as irrational sociopathy, possible rationality and strategic rationality of the dominant sectors of Brazilian society gain, in analytical terms, when understood as manifestations of an autocratic governmentality. More than framing the São Paulo sociologist within the Foucauldian conceptual apparatus, I intend to demarcate, in an effort of symmetry and reciprocal enrichment, his contributions to an analysis of government rationalities and, finally, in dialogue with more recent readings of contemporary capitalism, suggest the relevance of the critical sociology of Florestan Fernandes in the effort to elaborate a diagnosis of the present.
Downloads
Referências
ARANTES, Paulo Eduardo (2004), Zero à esquerda. São Paulo: Conrad Editora do Brasil.
ARRUDA, Maria A. do N. (2010), Prefácio. In: FERNANDES, Florestan. Circuito fechado: quatro ensaios sobre o ‘poder institucional’. São Paulo: Globo.
BOSI, Alfredo. (1988), A escravidão entre dois liberalismos. Estudos Avançados, 2(3), 4-39.
BOTELHO, André. (2013), Teoria e história na sociologia brasileira: a crítica de Maria Sylvia de Carvalho Franco. Lua nova, São Paulo, 90, pp. 331-366.
BRANDÃO, Gildo Marçal. (2007), Linhagens do pensamento político brasileiro. 1. ed. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Ed.
BRÖCKLING, Ulrich; KRASMANN, Susanne; LEMKE, Thomas. (Eds.). (2011), Governmentality: current issues and future challenges. 1. ed. New York: Routledge.
BROWN, Wendy. (2015), Undoing the demos: neoliberalism’s stealth revolution. 1. ed. Zone books: New York.
BURCHELL, Graham; GORDON, Colin; MILLER, Peter. (1991), The Foucault effect: studies in governmentality. 1. ed. Chicago: The Univerisity of Chicago Press.
BRASIL JR., Antonio. (2013a), Passagens para a teoria sociológica: Florestan Fernandes e Gino Germani. 1. ed. São Paulo: Hucitec.
__________. (2013b). A reinvenção da sociologia da modernização: Luiz Costa Pinto e Florestan Fernandes (1950-1970). Trab. Educ. Saúde, v. 11, n.1, pp. 229-249.
COSTA, Sergio. (2010). Teoria como adição. In: Martins, Heloísa S.. (Org.). Horizontes das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: Discurso Editorial – Barcarolla.
FERNANDES, Florestan. (1975). Sobre o trabalho teórico (entrevista). Trans/Form/Ação, Marília, vol. 2.
_____________. (1976a [1962]), A Sociologia numa Era de Revolução Social. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar.
_____________. (1976b [1960]), Ensaios de sociologia geral e aplicada. 3. Ed. São Paulo: Pioneira.
_____________. (1978a [1965]), A integração do negro na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Ática.
_____________. (1978b [1967]), Fundamentos empíricos da explicação sociológica. 3. Ed. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos.
_____________. (1979), Apontamentos sobre a ‘teoria do autoritarismo’. 1. ed. São Paulo: Editora Hucitec.
_____________. (1980 [1977]), A sociologia no Brasil. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
_____________. (1986), Que tipo de república?. 1. ed. São Paulo: Brasiliense.
_____________. (2006 [1975]), A revolução burguesa no Brasil. 5. ed. São Paulo: Globo.
_____________. (2008 [1968]), Sociedade de classes e subdesenvolvimento. 5. ed. São Paulo: Global Editora, 2008.
_____________. (2010 [1976]), Circuito fechado: quatro ensaios sobre o ‘poder institucional’. 1. ed. São Paulo: Globo.
_____________. (2013 [1960]), Mudanças sociais no Brasil. 1. ed. digital. São Paulo: Global Editora.
FOUCAULT, Michel. (1987a [1975]), Vigiar e Punir. 20. ed. Petrópolis: Vozes.
___________. (1987b [1969]), Arqueologia do Saber. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
___________. (1988 [1976]), A Vontade de Saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal.
___________. (1999a [1966]), As Palavras e As Coisas. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes.
___________. (1999b [1997), Em Defesa da Sociedade: Curso no Collège de France (1975-1976). 1. ed. São Paulo: Martins Fontes.
___________. (2008a [2004]), Segurança, território, população: Curso no Collège de France (1977-1978). 1. ed. São Paulo: Martins Fontes.
___________. (2008b [2004]), Nascimento da biopolítica: Curso no Collège de France (1978-1979). 1. ed. São Paulo: Martins Fontes.
HUGHET, Montserrat Galceran. (2012), El análisis del poder: Foucault y la teoría decolonial. In: Tabula Rasa, Bogotá-Colombia, n. 16, pp. 59-77.
LOSURDO, Domenico. (2006), Contra-história do liberalismo. 1. ed. Aparecida: Ideias & Letras, 2006.
MAIA, João Marcelo. (2009),. Pensamento brasileiro e teoria social: notas para uma agenda de pesquisa. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 24, n. 71.
MARX, Karl.(2008 [1867]), O capital, livro I. 35. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
MBEMBE, Achille. (2011 [2006]), Necropolítica, seguido de Sobre el gobierno privado indirecto. 1. ed. Madrid: Editorial melusina.
________. (2014 [2013]), A Crítica da Razão Negra. 1. ed. Portugal: Antígona.
QUIJANO, Aníbal. (1992), Colonialidad y Modernidad-Racionalidad. In: BONILLA, Heraclio. Los Conquistados: 1492 y la población indígena de las Américas. 1.ed. Bogotá: Tercer Mundo.
SILVA, Lucas Trindade da (2018), Biopolítica e o enunciado da autonomização das esferas sociais. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília – Brasília.
_______. (2019a), Inflexão na abordagem genealógica da modernidade em Michel Foucault: do arcaísmo disciplinar à sociedade de segurança. In: Revista Brasileira de Ciência Política, n. 30, pp. 275-313.
_______. (2019b). Gênese da intelectualidade neoliberal segundo Michel Foucault. In: Revista Pós Ciências Sociais, v. 16, n. 31, pp. 181-207.
_______. (2020), Indiferenciação por diferença: implicações da governamentalidade neoliberal para a teoria sociológica. In: Tempo Social, v. 32, n. 1, pp. 247-264.
STREECK, Wolfgang. (2011), The crises of democratic capitalism. In: New left review 71.
________. (2017 [2016]), Como terminará el capitalismo? Ensayos sobre un sistema en decadencia. 1. ed. Madrid: Traficantes de Sueños.
TAVOLARO, Sergio. (2005), Existe uma modernidade brasileira? Reflexões em torno de um dilema sociológico brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 59, pp. 5-22.
________. (2017), Retratos não-modelares da modernidade: hegemonia e contra-hegemonia no pensamento brasileiro. Civitas, Porto Alegre, v.17, n.3, 115-141.
WEBER, Max. (2016 [1920-1921]), Ética econômica das religiões mundiais. 1. ed. Petrópolis, Vozes.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).